domingo, junho 12, 2005

Metrô linha 743

Ele ia andando pela rua meio apressado, ele sabia que tava sendo vigiado. Cheguei para ele e disse: “Ei amigo, você pode me ceder um cigarro?” Ele disse: Eu dou, mas vá fumar lá do outro lado, dois homens fumando juntos pode ser muito arriscado!! Disse: “O prato mais caro do melhor banquete é o que se come cabeça de gente que pensa e os canibais de cabeça descobrem aqueles que pensam porque quem pensa, pensa melhor parado!” Desculpe minha pressa, fingindo atrazado, trabalho em cartório mas sou escritor, perdi minha vida nem sei qual foi o mês. Metrô linha 743.
O homem apressado me deixou e saiu voando. Aí eu me encostei num poste e fiquei fumando. Três outros chegaram com pistolas na mão,um gritou: “Mão na cabeça malandro, se não quiser levar chumbo quente nos cornos” Eu disse: “Claro, pois não, mas o que é que eu fiz? Se é documento eu tenho aqui...” Outro disse: “Não interessa, pouco importa, fique aí! Eu quero saber o que você estava pensando... Eu avalio o preço me baseando no nível mental que você anda por aí usando.. E aí eu lhe digo o preço que sua cabeça agora está custando”
Minha cabeça caída, solta no chão. Eu vi meu corpo sem ela pela primeira e última vez, Metrô linha 743. Jogaram minha cabeça oca no lixo da cozinha, eu era agora um cérebro vivo à vinagrete. Meu cérebro logo pensou: que seja, mas nunca fui tiéte.
Fui posto à mesa com mais dois. E eram três pratos raros, e foi o maitre que pôs. Senti horror ao ser comido com desejo por um senhor alinhado. Meu último pedaço, antes de ser engolido ainda pensou grilado: “Quem será este desgraçado dono desta zorra tôda?”
Já tudo armado, o jogo dos caçadores canibais. Mas o negócio é que tá muito bandeira. Tá bandeira demais meu Deus!Cuidado brother, cuidado sábio senhor eu aconselho sério prá vocês...Eu morri e nem sei mesmo qual foi o mês, Metrô linha 743.

[Raul Seixas]

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